segunda-feira, 19 de novembro de 2012

A IMAGEM CORPORAL NA OBESIDADE



                                                                                              Pamalomide Zamberlan*

RESUMO
Entendendo a obesidade como uma doença que atinge uma grande parcela da população e conhecendo os agravantes desta, este artigo propõe uma revisão teórica sobre a imagem corporal em situações de obesidade. Abrangendo a constituição da imagem corporal e suas definições bem como características da obesidade. Com este enfoque, pretende-se discutir a relação e a situação da imagem corporal em pessoas obesas a partir da literatura existente sobre o assunto.

PALAVRAS CHAVE: PSF, constituição, imagem corporal e obesidade.

A problemática que será apresentada no decorrer deste artigo vem falar sobre a questão da imagem corporal em pessoas obesas esta temática foi colhida a partir do Estágio Profissionalizante em Psicologia Social Comunitária no contexto do Programa de Saúde da Família de uma cidade do noroeste do estado do Rio Grande do Sul. No PSF em questão são realizados encontros mensais da equipe com mulheres que se encontram acima do peso e que precisam perder peso para manter a saúde de seu corpo e ter uma melhor qualidade de vida.
Nos encontros do grupo de controle do peso, são abordados assuntos como a compulsão alimentar e o sedentarismo, além de um espaço para cada uma das participantes expressar suas dificuldades no controle da alimentação e do peso.
A estagiária de psicologia se insere dentro desse contexto atuando em conjunto com a equipe profissional do PSF no sentido de fortalecer o apoio mútuo, a motivação e a auto-estima abalada pelo padrão de beleza da sociedade atual. Dessa forma a psicologia contribui para a assiduidade das participantes do grupo e permitindo a expressão das angústias e ansiedades que geralmente são motivos para descuidar da alimentação e dos exercícios físicos o que faz com que as mulheres ganhem peso e sintam-se derrotadas perante o grupo.
O fato de a obesidade envolver mudanças na aparência corporal fez com que despertasse o interesse pela questão da imagem corporal nas situações de sobre peso, já que a imagem corporal está relacionada com outros transtornos alimentares como a bulimia e a anorexia, para tanto se faz necessário para o profissional da psicologia preocupado com a saúde coletiva estudar e pesquisar as distorções da imagem corporal na obesidade.
A obesidade, nas últimas décadas vem preocupando cada vez mais a sociedade médica e as equipes de saúde da família, isso porque muitas doenças que lotam os postos são decorrentes da obesidade e da má alimentação das pessoas. Isso faz com que se promovam mais campanhas para prevenir e combater a obesidade.
De acordo com Duarte (1999), a obesidade é a causa do aumento de diversas enfermidades com arteriosclerose, diabetes, doenças cardiovasculares e até neoplasias malignas como câncer de intestino, de próstata e de mama. O autor ressalta que muitas vezes o tratamento para a obesidade é muito mais agressivo do que a própria doença , isso ocorre porque da maioria das vezes o tratamento é feito sem uma orientação adequada.
Entende-se por um tratamento eficaz alguns destes como em primeiro lugar o psicoterápico, medicamentoso, exercícios e dietoterapia, no entanto, o que se recomenda são tratamentos que, a partir da avaliação do paciente, envolvam vários deste citados acima. A psicoterapia tem uma importância em especial pois, auxiliam o paciente na mudança dos hábitos e comportamentos que o levam a comer em exagero, além trabalhar com a questão tema deste artigo que é a imagem corporal, que vai sendo modificada ao longo da vida do ser humano. (DUARTE, 1999)

A IMAGEM CORPORAL E O CORPO
A constituição da imagem corporal como diz Mahler (.....), tem seu início desde a primeira subfase de diferenciação entre a mãe e o bebê por volta do quarto a quinto mês de idade, ainda quando o processo simbiótico está em plena atuação, a explicação para essa afirmação é de que a partir do nascimento o bebê já vem adquirindo uma preparação para a consciência de separação com a mãe e o fator desencadeante é o próprio parto no qual há o primeiro impacto de separação com o corpo da mãe.
Nos meses seguintes, o bebê manifesta comportamentos que são sinais de que ele começa a diferenciar seu corpo do corpo da mãe tais como, puxar o cabelo, as orelhas e o nariz da mãe, além de afastar o corpo dela para vê-la melhor, acontece também uma exploração tátil do rosto da mãe e das partes vestidas ou não do corpo desta mãe. Portanto, a partir dessas manifestações a criança dá seus primeiros passos para a constituição de um corpo somente seu, desvinculado do corpo de sua mãe. (MAHLER,    )
Com relação à constituição da imagem corporal da criança, um período de especial importância é o estádio do espelho, pois, segundo Jerusalinsky (2002), o bebê assume um Eu por identificação à imagem que o outro lhe oferece para que ele se reconheça nela. Os pais ou cuidadores, apresentam esse bebê do espelho e o identificam como sendo o seu bebê, e isso faz com que a criança inicie uma tentativa de construção de uma imagem unificada do corpo.
Com o passar dos meses, a consciência de separação e individuação, para com a mãe, vai consolidando-se até que a criança tenha a percepção de possuir um corpo separado do da mãe e adquira autonomia como sujeito desejante.
No entanto, outras vertentes não Freudianas trazem uma compreensão diferente da constituição e do uso do corpo. Segundo Muraro (2002), a teoria psicanalítica sobre a sexualidade e sobre a constituição da imagem corporal não é válida para toas as classes sociais, ela somente pode ser aplicada para os bem-nutridos. Isso se confirma sob a alegação de que o fator econômico, na maioria das vezes, controla os desejos mais básicos, como a satisfação de ordem nutricional que levaria a uma erotização da zona oral do bebê, portanto a relação da mãe com seu bebê e a relação dos sujeitos com seu corpo está, de acordo com a autora, ligado às classes sociais.
Ela faz relação a dois tipos de corpos, um que é o corpo da burguesia, feito para o prazer, para o consumo e o poder e o outro que é o corpo do camponês que foi feito para a produção, fome e para o sofrimento. Para a autora (2002), o sentido do corpo para as camponesas não era a beleza ou a sensualidade, mas sim a força e a gordura para trabalharem mais e melhor e também para suportar a uma vida de miséria. Com isso Muraro afirma que “o substrato do inconsciente é dado, mas o imaginário profundo é fabricado, tal qual macho e fêmea são dados, homens e mulheres são fabricados, tal qual o organismo é dado, o corpo é produzido pelo sistema”. (MURARO, 2002 p. 221) Portanto, o que se percebe é que o sistema e o ambiente no qual o sujeito se insere modifica e constrói uma visão do próprio corpo bem como sua valorização ou depreciação.
A partir disso pode-se pensar por que os índices de obesidade vêm tornando-se cada vez maiores e atingindo as pessoas de uma forma tão agressiva, adoecendo os sujeitos a ponto de tornar a relação dos sujeitos com o próprio corpo e com o alimento uma doença, como os diversos transtornos alimentares existentes, bulimia, anorexia, compulsão alimentar e obesidade. 
A OBESIDADE E A PERCEPÇÃO DO CORPO
Segundo Bray, (1989) apud Azevedo e Spadotto (2005),  a obesidade é descrita como a presença de excesso de tecido adiposo no organismo, sendo considerada o resultado de um desequilíbrio energético, que acontece devido a uma entrada de energia no organismo maior que os gastos feitos pelo organismo através do metabolismo e do gasto energético. Ainda de acordo com este autor, há dois tipos de obesidade: a obesidade exógena ou comum, que pode ser conhecida também como primária ou nutricional; e a obesidade endógena ou metabólica, também chamada de secundária.
Tomando a obesidade  como um desequilíbrio entre a entrada e a saída de energia no organismo, Azevedo e Spadotto (2005), afirmam que esse desequilíbrio ocorre por conseqüência multifatorial, isto é, da interação e influência de vários fatores: constitucionais, ambientais (como falta de atividade física e hábitos alimentares inadequados), culturais, sociais, familiais, psicológicos e emocionais.
Pesquisas no Brasil, revelam um aumento significativo de excesso de peso e de obesidade na população, principalmente na de baixa renda, pode-se dizer que há portanto uma relação cultural com o alimento e também uma constatação de que os alimentos mais saudáveis são de difícil acesso para a população mais pobre.
Com isso, as autoras afirmam que os hábitos ambientais e familiares também têm uma grande influência nos casos de obesidade. Além de considerarem a compulsão alimentar como a expressão de um desajustamento emocional, sendo a obesidade vista, então, como o sintoma do mesmo, superdeterminado por causas psicológicas e emocionais.
Barros apud Azevedo (2005), que estudou a imagem corporal em pessoas obesas, considera que em 40 a 50% destas há um transtorno da auto-imagem, e este se apresenta como um fator psicopatológico do individuo. Ainda segundo o autor, esse distúrbio da imagem corporal dificulta um prognóstico positivo para o obeso, pois o corpo emagrece mas o sujeito ainda pensa como gordo e esse é um dos motivos para o aumento do peso.
Percebe-se, portanto, a importância da constituição da imagem corporal para o processo de emagrecimento e também para a aceitação de sua condição física já que a maioria não tem um corpo escultural como o preconizado na mídia. Pode-se dizer que o conceito de beleza contemporâneo contribui para os distúrbios da imagem corporal, isso não somente na obesidade, mas em outros transtornos alimentares graves como a bulimia e a anorexia.
Com relação à isso, Barros apud Azevedo (2005), diz que é comum encontrar-se em obesos uma auto-imagem depreciativa o que decorre da valorização do corpo perfeito causando prejuízos nas relações sociais de pessoas que não se encaixam nesse padrão de beleza. Outra questão que acontece e que reforça uma auto-imagem negativa sobre si mesma é a freqüente discriminação em diversos contextos como por exemplo, educacionais, profissionais e sociais, o que gera neles ansiedade, raiva e dúvidas em relação a si próprios. E considerando o que Dolto (2001), diz sobre a imagem do corpo ser
“...a síntese viva de nossas experiências emocionais...a cada momento, memória inconsciente de todo o vivido relacional e, ao mesmo tempo, ela é atual, viva, em situação dinâmica, simultaneamente narcísica e inter-relacional, camuflável ou atualizável na relação aqui e agora, por qualquer expressão linguageira, desenho, modelagem, invenção musical, plástica, assim como mímica e gestos.” (DOLTO, 2001, P. 14 e 15).
pode-se confirmar a influência das relações dos obesos com o preconceito e a sensação de fracasso perante o controle da alimentação aliado também com a insatisfação com um corpo que não é valorizado e visto como belo pelo contemporâneo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em suma, a obesidade além de provocar disfunções orgânicas que prejudicam a saúde física dos sujeitos, também é capaz de produzir distúrbios psicológicos que prejudicam a imagem corporal e conseqüentemente as relações sociais e a qualidade de vida dos sujeitos.
O que se pode perceber é que a imagem corporal, isto é, a ilustração que se tem acerca do tamanho e da forma do corpo, bem como os sentimentos relacionados a essas características, sendo então o retrato mental da aparência física (ALMEIDA et al., 2005), é o alvo de angústias para muitas pessoas obesas, principalmente mulheres. Um dos motivos que possam explicar algum distúrbio na imagem corporal de obesos é a imagem de perfeição do corpo que é visto como o alvo a ser atingido por todas as mulheres, causando frustração para aquelas com um corpo diferente do “ideal”.
No entanto, não é só isso, um distúrbio na imagem corporal pode dificultar a redução de peso, isso acontece porque a imagem do corpo precisa ser modificada para que o obeso possa parar de pensar como gordo e começar a apreciar seu corpo para que assim possa realmente ocorrer um emagrecimento sem que haja uma recaída e um retorno ao sobrepeso.
Através das pesquisas, concluiu-se que existem poucas pesquisas sobre o assunto, portanto seriam necessários novos estudos para aprofundar a relação entre a obesidade e a imagem corporal para que o prognóstico seja mais positivo e também para que haja, com mais freqüência, um acompanhamento psicoterápico facilitando o entendimento da imagem corporal própria e mutável, não estagnada.




REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AZEVEDO, Maria Alice Salvador Busato de. SPADOTTO, Cleunice.Estudo psicológico da obesidade: dois casos clínicos.Aceito em 2005
Disponível em http://www.sbponline.org.br/revista2/vol12n2/v12n2a04t.htm.
DOLTO, Françoise. A imagem inconsciente do corpo. São Paulo: Editora Perspectiva, 2001.
DUARTE, Luis Varo. Nutrição e Obesidade. Porto Alegre: Artes e Ofícios, 1999.
MAHLER, Margaret S. O nascimento psicológico da criança.
MURARO, Rose Marie; BOFF, Leonardo. Feminino e masculino: uma nova consciência para o encontro das diferenças. Rio de Janeiro: Sextante, 2002.
JERUSALINSKY, Alfredo. Enquanto o futuro não vem: a psicanálise na clínica interdisciplinar com bebês. 2002.


* Pamalomide Zamberlan – acadêmica do 8º semestre do curso de psicologia da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões-URI Santo Ângelo. 2008.

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